'A Identidade'...
Hoje senti necessidade de... filosofar.
Não vou citar nenhum autor, nem obra anónima ou o pensamento de outrém... apenas deixar que as letras do teclado corram entre os meus dedos discorrendo o que me vai... na alma. Ou melhor: no pensamento.
Pode não ser um discurso coerente, e nem sequer é uma comunicação dirigida.
Portanto, diria que é apenas um desabafo... uma partilha da angústia que sinto que muitos de nós sentimos perante as adversidades dos tempos que estamos a viver.
Apraz-me dizer que sou uma privilegiada, face a muitas outras pessoas que conheço ou conheci neste caminho da vida... mas sinto um enorme e intrínseco pesar, por saber que há quem não o seja.
Como gostava de ter uma 'varinha mágica' e de levar luz a quem não vê; a alegria a quem está triste; o pão a quem tem fome, a água a quem tem sede; uma palavra a quem vive no silêncio... um trabalho a quem está sem trabalho e meio de subsistência.
São muitas as questões, as perguntas sem respostas, as dúvidas e as incertezas.
Talvez este seja um grito de alerta para este vazio em que nos estamos a tornar - absortos na legítima angústia e na incerteza de que o nosso posto de trabalho está lá amanhã, como esteve hoje - descurando muitas vezes quem nos é mais importante: a nossa essência, os nossos filhos, esposo(a), pais, irmãos, primos... amigos.
No que nos estamos a tornar? Vivemos uma 'ditadura democrática'? A competividade promove a mediocridade? O medo conduz à imoralidade da acção e do pensamento? À inércia? Ao comodismo?
Vivemos tempos conturbados e às tantas parece-me que estamos não só a perder a identidade, como a dignidade, aquilo que nos faz sentir essência, pessoa de direitos e liberdades, mas também de deveres e obrigações. Para connosco e para com os outros.
Há muito que não andava na rua, no metro... que não sentia os odores das manhãs de Inverno, a luz quente do Sol na tez, que não sentia as pessoas no seu 'frenezim' diário, saindo um pouco da minha 'bolha'. E eis que o fiz e....sinceramente, 'senti' que caminhamos desmotivados, desmoralizados. Quase vazios de coisas boas e salutares como a alegria, a felicidade, a esperança...
Senti que alguns de nós - independentemente da situação económica e social (nem que seja a que aparentamos) - precisamos que nos oiçam, que alguém nos perguntem quem somos, ou o que queremos... o que esperamos dos outros e da vida, e quem queremos que nos dê a mão... uma palavra amiga e carinhosa ou apenas de uma palavra.
São tantas as dúvidas e as questões que me ocorrem... mas sei que não existem respostas que me saciem.
O título deste 'post' é, também, o de uma obra de Milan Kundera, que li vezes sem conta, porque, de algum modo, e de uma forma talvez inusitada, me identifiquei com as suas personagens. Há alguns anos. Há obras assim. Intemporais, porque sempre actuais. Nem que seja por instantes, por momentos...
Estamos a perder a identidade, porque querem que se perca a memória. A nossa memória, das coisas e das pessoas do passado que, para o bem ou para o mal, são parte de nós, da nossa vivência e da nossa experiência.
Dizem que este é um País de velhos, será? E se assim for, porque não vemos neles os mestres? A sensatez, a moderação, a voz da razão para que valorizemos o essencial, e menos o assessório?!
E porque não cuidamos desses mesmo velhos? Porque os deixamos morrer sozinhos e porque nos sentimos, também nós, sozinhos, desamparados? Furiosos, infelizes e impotentes... reféns de uma idade cronológica que, nem sempre, ou muitas vezes, não corresponde àquela que sentimos?
Seremos velhos aos 40 anos, aos 50, aos 60? E demasiado novos aos 20? E profundamente ambiciosos aos 30?
Quem determina que assim seja? E porquê?
Eu senti-me velha aos 20, rejuvescida ao 30 e muito mais sensata e tolerante aos 40. Mas nem por isso mais feliz ou infeliz. Senti-me apenas... diferente, talvez. Sem nunca deixar de ser a 'eu' de sempre.
O que nos estamos a fazer? O que estamos a deixar que nos façam?
Não nos podemos perder, sem ser em nós próprios... Porque aí, pode ser mais fácil encontrarmo-nos!
TF