quarta-feira, 1 de junho de 2011

Reflexões sobre adultez e velhice

RESUMO

A literatura científica é rica na demonstração de uma diversidade de quadros conceptuais sobre o desenvolvimento humano ao longo da vida. Numa linguagem informal é a ficção que traduz esses universos fascinantes do ser psíquico, mas também do biológico e social, dando sentido à máxima de que a beleza do ser humano está na sua complexidade. É este o ponto de partida para uma curta reflexão sobre alguns aspectos da idade adulta (adultez) e da velhice. Da sua identidade face aos desafios da actualidade. Trata-se de uma abordagem pessoal, não exaustiva, pontuada por referências bibliográficas.

Palavras-chave: idade adulta, velhice, identidade, desafios, sociedade

ABSTRACT

The scientific literature is rich in demonstrating a variety of conceptual frameworks on human development throughout life. In informal language is the fiction that translates these fascinating worlds of being psychic, but also the biological and social, giving meaning to the maxim that human beauty is in its complexity. This is the starting point for a short reflection on some aspects of adulthood (maturity) and old age. Their identity against the challenges of today. This is a personal approach, not exhaustive, punctuated by references.

Keywords: adulthood, old age, identity, challenges, society

«Lembrar-se do passado, trazê-lo sempre consigo, é talvez a condição necessária para conservar, como se costuma dizer, a integridade do Eu» (in A Identidade, Milan Kundera)

Numa sociedade em que a agenda político-económica dita as regras, em detrimento de questões éticas, sociais e de cidadania, impõem-se reflectir se não se estará a abrir uma ‘Caixa de Pandora’ quanto a um reequacionamento do que é hoje ser adulto, e do que é ser idoso?  

A própria sociedade marca o ritmo. Um estudo conduzido pela socióloga Filomena Carvalho Sousa, a um universo de 1500 indivíduos, revelou que a maioria dos inquiridos considera que para, ser adulto, é muito importante ter um trabalho estável, poder planear o futuro e ter uma boa situação financeira. «O trabalho é, actualmente, a principal norma de integração dos indivíduos na sociedade (…) O modo de ser, fazer, pensar, e viver em sociedade, subordina-se fortemente à identidade profissional» [Sousa, 2008, p:11]. Contudo, a instabilidade do mercado de trabalho e a perda, cada vez mais acentuada, de autonomia financeira, são, numa primeira instância, factores desestabilizadores para este indivíduo que, em teoria, estaria numa etapa da vida em que estabilidade e reconhecimento social seriam paralelos e inabaláveis. E, como se não bastasse, temos agora uma ‘Troika’, cujas medidas de austeridade anunciam tempos de fragilidade, social e relacional para uma classe média, supostamente estabilizada/equilibrada, que até aqui tem suportado ‘o barco’.

Este confronto com o inesperado, conduz o sujeito adulto a uma reavaliação simultânea do Eu pessoal e do Eu social, como defendem os teóricos do desenvolvimento. Emergir num reposicionamento face às adversidades, promove mudanças numa perspectiva sociológica e psicológica. Os exemplos sucedem-se: trocar a vivenda por um pequeno apartamento; acabar uma licenciatura para manter o emprego e ascender na carreira… Na prática, estes comportamentos fase à adversidade, revelam a maturidade do adulto, mas também significam uma regressão em termos de ascensão social, do que este tinha projectado para o futuro, o que tem, claramente, efeitos emocionais. Para os teóricos, o substantivo ‘mudança’ ou ‘conflito’, abre portas a novas possibilidades no crescimento do Eu individual e social. E falam em resiliência, «factor de equilíbrio pessoal e social que permite ter um funcionamento e desenvolvimento adaptado» [citando Arnaut, 2005, p:17, adaptado por UAb 2011]. Já Tavares [2001, p:57, citado em Arnaut, 2005] define que o indivíduo resiliente é «flexível, aberto, criativo, livre, inteligente, emocionalmente equilibrado, autêntico, empático, disponível, capaz de resistir às mais variadas situações, mais ou menos difíceis, sem partir, sem perder o equilíbrio, por mais adversas que essas situações se lhe apresentem». A habilidade de reagir ao imprevisto, de ultrapassar as dificuldades, de superação (desemprego, divórcio, morte…) requer funções estruturais mais complexas, como defendem os psicólogos do desenvolvimento. Erikson e Loevinger defendem que o desenvolvimento se processa ao longo da vida e por «estádios potencialmente mais maduros e integrados que os precedentes» [Anónimo, 2008, p: 22]. Carece sublinhar a teoria de Erikson, referência pelos seus estudos da idade adulta para muitos teóricos, que considera que o desenvolvimento humano é caracterizado por uma crise psicossocial e que se processa por estádios, tendo em consideração marcadores cronológicos. Levinson, por seu turno, fala em períodos de mudanças, «não significando tais mudanças maior maturidade ou maior integridade». Mas reúnem consenso quando atribuem características de «plasticidade e flexíbilidade» ao adulto.. Tavares [et tal 2007, p:95] refere: «Ao contrário do que se defendia até há pouco tempo, a fase adulta não é demasiado tardia para a aprendizagem e a ideia de estagnação do conhecimento é ilógica e infundada».

Voltando ao estudo de Sousa (2008), refere a socióloga: «Na adultez, ter um trabalho significa ter identidade social e pessoal. O trabalho dá sentido a várias dimensões da vida, mesmo os compromissos conjugais e familiares estão subordinados a um sentimento subjectivo de segurança no trabalho»  [p: 12, citando Ninal, 2000]. A investigação fica ainda marcada por outros dados: a coexistência, em Portugal, nos últimos 30 anos, de três tipos de adulto: o padrão, o inacabado e o híbrido. O primeiro corresponde ao que valoriza a estabilidade profissional, conjugal e familiar, independência e autonomia; para o segundo, a valorização da estabilidade profissional e financeira surge vinculada à importância das práticas de lazer e sociabilidade -  a que a autora designou de ‘hedonismo protegido’ -  e, o último valoriza as componentes anteriores e acresce a valorização da aprendizagem ao longo da vida. O adulto híbrido é, segundo Sousa, o que corresponde à classe média e considerado «o adulto problema». «Na sociedade portuguesa, o adulto híbrido vincula-se na existência de mudança e continuidade. E de continuidade na mudança» [Sousa, 2008, p:8, citando Machado e Costa, 1998].

Acompanhar o ritmo frenético dos acontecimentos, marcado pelo avanço da tecnologia, competir com uma geração mais nova e ambiciosa no espaço laboral, e ainda dar resposta às exigências familiares, afectivas e sociais, obriga a processos constantes de adaptação à mudança. Como refere Sousa (2008), «ser adulto é uma conquista».

Mas, os efeitos da inequívoca modernidade das sociedades e das suas mutações sociais também se reflectem no rácio da população que está em ‘fim de linha’: os idosos. A incógnita que domina a tónica do presente, torna-os reféns de políticas sociais que parecem mudar ao sabor de interesses económicos e que, raramente, surgem com carácter de justiça e solidariedade. Esta fase da vida, que Erikson classifica de Integridade do Eu/ Desespero, é também marcada por mudanças não só biológicas, como sociais e culturais. A adaptação à nova forma de vida opera-se, num primeiro momento, com a reforma (que em Portugal é aos 65 anos), e que simboliza o fim de um estatuto social que se confere ao trabalho, como espelha o estudo referido  de Sousa (2008). Por outro lado, Tavares [et tal, 2007, p: 102] defende que a forma como a pessoa na velhice vive esta fase do seu percurso depende «do valor monetário da reforma, do estado de saúde do sujeito, do tipo de trabalho até aí realizado, do estado civil, do sexo, entre outros». A idade tem as suas mais-valias, como a sabedoria, que no entender dos psicólogos do desenvolvimento obedece a algumas premissas, nem sempre consensuais. Destaco a teoria de Stenberg que considera: “sabedoria implica que a pessoa tenha consciência de que não sabe tudo, que o conhecimento é falível e que não existem respostas absolutas» [Marchand, 2001, p:145]. No que respeita à cognição, recorda Tavares (2007) que a aprendizagem é um processo dinâmico  e que se prolonga, recusando a teoria do declínio das capacidades intelectuais. Neste contexto, «a prática e o treino (…) aumentam o desempenho» [Anónimo, 2008, p: 23]. A motivação dá o impulso e o impacto pode ter resultados excepcionais. Refira-se os estudos que apontam que um número razoável de idosos chegam à reforma e descobrem a potencialidade das redes sociais. Ou ainda, num cenário mais próximo, o exemplo da alfabetização, em alguns casos com prosseguimento de estudos até ao 4º ano.

Conclusão.

A instabilidade política, a fragilidade do sistema social, a precariedade laboral, o desemprego, o aumento da competitividade e as novas formas de socialização que marcam hoje as sociedades modernas, são alguns dos grandes desafios colocados ao adulto, mas também ao idoso. Sujeito à pressão de uma sociedade que tanto lhe atribui características de responsabilidade, assertividade e estabilidade, o adulto pode assistir a um excesso de expectativas forjadas com impactos mais ou menos positivos na sua identidade, auto-estima, ética relacional e social. Mas são estes factores de mudança, esta dinâmica do Eu psíquico e do Eu social que torna o ser humano tão fascinante, complexo, imprevisível e único.

Neste contexto, entendo a biografia do indivíduo como uma obra única e inacabada, na qual o próprio participa/interage, com avanços e recuos, em maior ou maior escala, por factores internos ou externos, conforme processos do seu desenvolvimento, que dependem de dinâmicas biológicas, cognitivas, culturais, relacionais e sociais.

Tarefa 2 – Reflexão sobre o meu percurso na UC Psicologia do Desenvolvimento

Reflectir sobre o meu percurso na UC de Psicologia do Desenvolvimento, sinceramente, se considerar a avaliação do primeiro e-fólio, não tem sido o mais positivo. Perante isto é óbvio que as dificuldades, face à tarefa, não foram cumpridas na sua globalidade. Reconheço que me equivoquei quanto ao solicitado. Ainda assim, retiro desse episódio aspectos positivos e que, no fundo, têm relevância para o meu trajecto nesta licenciatura. Fazer aquele e-fólio  permitiu-me ter acesso a uma série de conteúdos pertinentes. Informação que ainda permanece, o que é indicador de que a assimilação aconteceu, a sua aplicação é que foi desastrosa. Não tendo una carreira ligada à Educação, o desafio torna-se ainda mais estimulante. Pena é que, neste momento, a gestão do meu tempo se tenha desvirtuado, por questões laborais. Ao fim de imensas horas de trabalho, nem mente, nem corpo respondem ao que lhes solicito e, lamentavelmente, a bibliografia vai-se acumulando. De resto, recorrendo ao lugar-comum, o que não deixa de ser verdade, esta é uma das mais apaixonantes e trabalhosas UC desta licenciatura, no entanto, um semestre é pouco.


REFLEXÕES FINAIS:
Por esta altura ainda não recebi a avaliação deste trabalho, contudo, arrisco partilhá-lo.

Mas, independentemente da nota, peço humildemente aos 'seguidores' deste blogue ou aos leitores 'do acaso' que vejam nele uma reflexão pessoal. Enquanto aluna do primeiro ano de Educação, mas sobretudo enquanto cidadã, pessoa, identidade que não pode ficar indiferente às transformações, às mutações... aos desafios que nós, enquanto sociedade, nos colocamos e em tempos tão adversos como os que estamos a viver actualmente, em Portugal e no Mundo. E num Mundo global, o que afecta o outro lado da esfera, reflecte-se, mais cedo ou mais tarde, aqui...

Acredito que as possibilidades de ultrapassar o imprevisto não se esgotam e que a adversidade nos ajuda a crescer, apesar de, admito, em alguns momentos o meu discurso estar muito próximo da fronteira do péssimismo. Não se deixem seduzir pelas palavras, mas reflictam sobre elas e tenham um olhar crítico, emotivo/objectivo q.b. Eu busco este equilíbrio constantemente.

Há quem queira retirar desta licenciatura o saber para 'ensinar' outrém, eu, confesso que ainda não sei ao certo, - acho que não será esse o meu caminho - até porque antes de querer ensinar o que quer que seja, quero aprender a aprender. Não só conteúdos academicamente ricos e indispensáveis. Mas sobretudo sobre mim, sobre os outros... sobre Nós! E por isso, como podem ver, uma das frases-chave do meu blogue é de Paulo Freire, um grande autor/pedagogo brasileiro que me foi dado a conhecer pelo prezado professor António de Diversidade.

NOTA DO TRABALHO:

Tinha de partilhar a nota deste trabalho: 80%. O que não significa que não tenha merecido algumas críticas por patte da docente.

Não escondo que senti alguma alegria pela nota atribuída, mas a verdadeira felicidade foi o gozo que me deu fazer  este trabalho.
Perdoem a arrogância.

Bibliografia:

Tavares, José, Gomes Alexandra, e tal. 2007. Manual de Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem. Porto: Porto Editora

Sousa, Filomena Carvalho. 2008. O que significa ser adulto? – As práticas e as representações sociais – A Sociologia do adulto. VI Congresso Português de Sociologia. Número de série 395

Anónimo. 2008. A Identidade e o Eu na Vida Adulta. Temas do Desenvolvimento do Adulto e do Idoso. Psicologia do Desenvolvimento

Marchand, H. 2001. A sabedoria.

Anaut, M. 2005. A resiliência. Ultrapassar os traumatismo. Lisboa: Climpesia (Adaptado como Resiliência, Uab)


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